quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Lira I


Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes.”
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

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INTERPRETAÇÃO:

 Nesta lira, Tomás agradece e elogia Marília, não importa o que esteja acontecendo ou o que vai acontecer ele sempre agradece Marília.

CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO:

Uso da idealização da mulher amada, ele conta o quanto ama Marília, ou o quanto seria grata por ter Marília ao seu lado.

CARACTERÍSTICAS DA LIRA:

O equilíbrio e o otimismo, a simplicidade de ideias e sentimentos.

SITUAÇÃO HISTÓRICA:

Em 1972 quando Tomás Gonzaga publica o livro, é uma época que ele estava apaixonado por uma brasileira, e nessa primeira lira ele conta tudo como começou.


GLOSSÁRIO:

Campa- Um povo indígena que vive no Peru.
Regaço- Parte do corpo que vai da cintura aos joelhos.
Papoula- Planta da família das papaveráceas.
Ciprestes- Símbolo da morte, da tristeza, da dor.


Cattarina Bites.
Número: 7






10 comentários:

  1. Bom dia!
    Procure dois exemplos de assonância e coloque no blog. (cada componente do grupo coloca dois exemplos). Tenha uma boa semana.
    Professor Ivan

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  2. Discordo em partes com você, pois na minha visão, ele o vê como pastor e Marília como a sua pastora. Ele sempre está satisfeito com qualquer coisa que ocorra, dai então os ''Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!''

    Myllena Marques.
    Número: 28

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  3. Bom, gostei! Mas acho que seu glossário deveria ter algumas definições a mais como prado, bálsamos vapora, nédio e bonina.
    São palavras que não sei o real significado na lira.

    Marcos Vinícius
    Nº23

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  4. Não concordo muito, pois sua lira dava para ter sido interpretada melhor, porque ela parece ser uma lira boa pra fazer uma interpretação. Mas gostei do restante.
    Nome: Ana Beatriz
    Número: 01

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  5. Acho que a sua interpretação ficou muito resumida e acho que na interpretação você poderia ter acrescentado que Tomás preferia apenas uma agrado da parte de Marília do que tronos e rebanhos. E concordo que no glossário poderiam haver palavras que não temos um claro entendimento.
    Matheus Souza Feitosa Nº 26
    1C

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  6. Gostei de sua interpretação, porém ficou muito resumida.

    Guilherme Koichi.
    Número: 12

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  7. Você poderia exemplificar um pouco mais na sua interpretação,acho que Dirceu,por ser um homem muito apaixonado por Marília,contentava-se com tudo que dela vinha,fossem coisas boas ou ruins,sempre agradecendo por tudo.
    Dai vem o "Graças,Marília,graças a minha estrela!" como disse Myllena.

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    1. O comentário acima foi feito por: Bruna Duarte número 06

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Gostei da sua interpretação pois você resumiu muito. também gostei da sua situação histórica pois explicou bem oque aconteceu naquela época.


    nome: Guilherme de melo dos santos
    n:11

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